sábado, 4 de setembro de 2010

Zen

        Cheguei a conclusão de que eu estava me sentindo culpado por ter um tabalho tão bom, sabe, a sociedade ocidental diz que você deve se sentir culpado se por acaso ameaçar se sentir feliz e satisfeito.
        Comecei a fazer uma coisa que eu já deveria estar fazendo a muito tempo e não fazia por me sentir culpado. Simplesmente ouvir música, curtir um som, mas não nas horas vagas, fazer isso bem na hora do meu trabalho, tranqüilo numa boa, porque o meu trabalho é esse, preciso treinar minha percepção musical para compreender melhor os conceitos musicais, por isso devo reservar algumas horas por dia para curtir um som.
        Gosto de ouvir discos, pegar um disco de uma banda e degustá-lo por inteiro, gosto de bons álbuns e meu trabalho é ajudar as pessoas que querem fazer música autoral a fazer bons álbuns, ou pelo menos tentar, por isso então finalmente despi-me da culpa judaico-cristã-protestante, vesti meu coração com o manto de um monge zen e simplesmente ouvi música, com toda calma e atenção num belo ato de contemplação.  Não há coisa mais prazeirosa nesse mundo do que se entregar ao momento, redescobrir os outros sentidos sem ser a visão e passar a perceber essa linda experiência de viver com outras cores, sabores e toques.
        Quando eu era criança, pegava os vinís da minha mãe, ligava aquele som gradiente antigo bem baixinho à noite, apagava as luzes, deitava entre as caixas de som e ficava ali, deitado naquele tapete da casa que eu não moro mais, mas que ainda está nos meus sonhos, pirando naqueles sons como se não houvesse mais nada no mundo, sem pensar em nada, sem nem se quer imaginar que o meu trabalho seria fazer aquilo quando crescesse.

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