domingo, 16 de outubro de 2011

Só é possível sonhar só

As vezes acordo com um sensação estranha, sei que foi um sonho, mesmo que não lembre com o que sonhei.
Já ouvi falar que sonhamos para digerirmos os acontecimentos da vida e quanto mais eu vivo e quanto mais eu sonho, menos percebo o "real" como distinto do onírico, tenho lembranças de sonhos antigos que são mais vívidas do que de acontecimentos reais.
Acho plenamente possível que eu esteja dormindo agora em um universo paralelo, sonhando o que considero a vida real nesse momento.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Navio Pirata

Vou andando pelas ruas para atravessar
as madrugadas dessa vida que somem no ar
como a fumaça do cigarro e as ilusões
de amores mortos que nos seguem como assombrações
 
Navegando só, em uma caravela
sou um pirata sanguinário no oceano
a procurar pelos tesouros escondidos
na rede de informações tão preciosas

Passeando pelo tempo como um viajante

eu procuro coisas raras num ato incessante
nas esquinas da cidade com meu passo errante 

como um louco embriagado, vago pelo instante

Mergulhando no infinito de um segundo
encontro náufragos momentos lá no fundo
do abismo onde fica o fim do mundo
e tudo acaba para sempre, sempre e sempre.  

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Só é bom se doer

        Alguns homens me recriminam por falar sobre sentimentos publicamente, eles acham que isso é sinal de fraqueza, temem o julgamento das mulheres porque acham que tem que fazer a imagem do garanhão, que se homem falar de sentimentos abertamente vai ser taxado de bonzinho ou ingênuo. Na verdade não estou nem um pouco preocupado com isso, fazer uma imagem, não gosto de propaganda, porque toda propaganda é enganosa,  me interesso mais pelos mistérios da vida. 
        Vejam bem, a vida é muito mais interessante do que televisão, cinema ou literatura, quem vive intensamente vê poesia em tudo, até no mais simples e trivial momento e é bom lembrar que a vida não é nossa, a gente só pegou emprestado um pouquinho. Então, viver atrás de máscaras é viver numa prisão, quanto mais a pessoa se esforça para tentar ser diferente do que é, apenas para agradar os outros, principalmente as pessoas do sexo pelo qual tem atração, mais medo ela tem de que não gostem ou deixem de gostar dela e quanto mais medo ela tem, mais máscaras usa e aí se torna neurótica, tipo um cachorro correndo atrás do próprio rabo e não aproveita suas experiências, não cria vínculos verdadeiros e provavelmente vai ter que fazer terapia um dia para não surtar.
        Não tenho vergonha de falar sobre as minhas paixões não correspondidas, não acho que seja grande coisa, talvez tenha sido um pouco mais doloroso do que ter a unha do dedão de um pé arrancada jogando bola descalço na rua quando criança.
        Experiências ruins e dolorosas são comuns na vida de todo mundo, o que varia é a forma como as interpretamos. Imagine uma pessoa que tenha um filho assassinado, ela pode se revoltar, ficar ressentida e se tonar obsecada por vingança ou pode começar a se questionar sobre a morte, compreender as causas da violência, superar a perda e começar a lutar por um mundo menos violento. Todos sofremos, cabe a cada um escolher entre o perdão e a vingança, eu escolhi o perdão.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O cafajeste e o mito do homem impossível


        Uma coisa que sempre me deixou perplexo sobre o comportamento feminino foi o fenômeno das fãs histéricas. Quando eu estava na oitava série havia uma legião de garotas que se descabelavam por causa do Bon Jovi, que choravam e desmaiavam por causa do Michael Jackson, também tinham aquelas que eram apaixonadas pelo playboy do colégio, ele era de uma família muito rica, ia de carro importado pra escola todos os dias, só andava com as melhores roupas de marca e tudo mais, comeu todas as meninas da escola, inclusive aquela menina que sentava do meu lado na minha sala, por quem eu era apaixonado.
        Mais antigamente, haviam legiões de fãs histéricas do Elvis, dos Beatles e do Jim Morrison, hoje em dia você vê milhares de meninas se descabelando pelo Justin Bieber, Nx Zero, Cine, Restart e etc, esses dias assisti um documentário sobre psicopatas nos Estados Unidos, tinha um em particular que fez muito sucesso chamado Richard Ramirez, matou mais de 13 mulheres, havia uma multidão de fãs histéricas do lado de fora do tribunal no dia do seu julgamento, uma fã inclusive se casou com ele na prisão antes dele ser executado.
        O fato é que não importa se é um cara interessante, rico, psicopata, famoso, gay, feio ou bonito, o que interessa mesmo é que ele seja impossível e inacessível, não no sexo, porque não precisamos de uma pessoa real para gozarmos, pra mulher é mais fácil ainda, um vibrador basta.  O cara tem que ser inacessível no sentimento, seja porque é um cara famoso, que ela nunca vai conhecer na vida real, ou porque ele é um cafajeste e só quer comer todas, ou porque é gay e nunca vai se apaixonar por uma mulher, ou porque é um padre e fez voto de castidade, ou porque é um psicopata e não tem sentimentos, enfim, a questão não está em nenhum homem em particular, mas numa fantasia feminina.
        É mentira que ninguém sabe o que as mulheres querem, os cafajestes sabem muito bem que basta alimentar essa fantasia absurda do homem impossível na cabeça delas e ser frio o bastante para não se envolver para fazer com que elas abram as pernas. O cafajeste existe ou porque é um cara insensível, desonesto e egocêntrico naturalmente ou porque as mulheres o tornaram assim, os cafajestes podem ser homens maus de verdade ou maus apenas com as mulheres, existem cafajestes que são extremamente sensíveis, leais e generosos para com os amigos, os parentes e todo mundo, menos com as mulheres, mas porque? Porque ser cafajeste é um mecanismo de defesa que muitos homens desenvolvem depois de sucessivos traumas e decepções  amorosas.
        O mito do homem impossível origina a não identificação dos homens com as mulheres, é uma forma de não se envolver e isso é péssimo, porque se baseia no mesmo mecanismo que os assassinos usam para matar, os ladrões para roubar e os golpistas para enganar suas vítimas, por isso um homem, para agir como cafajeste tem que em algum nível usar esse mesmo mecanismo. Através da não identificação, do não envolvimento emocional é possível usar o outro sem sentir remorso nem compaixão, é possível enxergar o outro como objeto.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Carta de amor(sacanagem) que eu nunca mandei

Esses dias assisti um filme ambientado na época da segunda guerra, chamado "Desejo e Reparação". Um homem escrevia uma carta de amor para uma mulher numa máquina de escrever, ele escreve várias versões, até que uma hora ele se cansa e resolve escrever uma carta de sacanagem só pra relaxar. É claro que ele nunca teria coragem de mandar aquela carta, mas no outro dia ele acorda atrasado e num ato falho acaba colocando a carta de sacanagem no envelope sem querer e para surpresa dele, a mulher, apesar de fingir que não, curte o que ele escreveu e eles acabam transando na biblioteca da casa dela,  fiquei inspirado pelo filme e resolvi escrever a minha própria carta de sacanagem.

        Quero te pedir que não fique grilada por eu te desejar, afinal de contas, esse negócio de você me tratar mal sem motivo só me faz pensar que como disse o Júpiter Maçã,  todas as estrelas serão nossas e o universo compreendido quando a gente gozar, sei que você dá para outros caras, tudo bem; antes eu achava que se você desse pra outros eu não iria te querer mais, mas hoje percebo que isso não tem nada a ver, porque eu estou ligado na sua essência interior, estou guardando meu lugar na fila e se a fila andar saiba que  eu ainda  te quero,  que esse lance de você ter ficado de mal comigo, ter me ignorado e tudo mais, me deixou com mais tesão ainda, me dá até um nervoso quando eu te vejo, de tão louco que eu fico de vontade de chegar em você, te fazer uns carinhos e te dar uns amassos.
        Não espero nenhum tipo de compromisso com o futuro, o futuro só existe no campo do vir a ser, das infinitas possibilidades, e o passado só existe nas recordações. O que me interessa é só o agora, que o nosso agora seja inesquecível.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eu sou um lixeiro

         Eu adorava ir à escola quando estava no jardim de infância, porque a tia pedia pra gente fazer um desenho bem bonito, mas não era obrigado a fazer se não quisesse e se a tia gostasse do desenho ela escrevia um elogio e colava uma estrelinha pra gente mostrar pra mamãe, quando eu entrei pra primeira série tudo mudou, não tinha mais estrelinha, a tia não pedia mais pra gente fazer desenhos, agora a gente tinha que decorar nomes e números e tinha que copiar coisas do quadro negro.
        Até hoje lembro da primeira prova de "interpretação de texto" que fiz. A prova tinha um texto que era um trecho de algum livro e em baixo tinha perguntas sobre o texto, mas não eram perguntas que levavam à pensar sobre o que falava o texto, eram perguntas irrelevantes para que a gente tivesse que copiar um trecho do texto, então pensei: Mas que idiota! Pra que que eu tenho que copiar um trecho desse texto sendo que já tá escrito lá?! Eles querem me transformar num papagaio?! Não quero fazer isso não, isso é chato, é paia, eu sou gente! Então é só pra isso que serve a escola? Decorar, decorar e copiar e copiar? Quero falar o que eu penso! Quero dar minha opinião sobre o que eu achei desse texto! Então ignorei as perguntas idiotas e escrevi o que eu pensava.
        Recebi minha prova toda riscada de caneta vermelha e uma nota próxima de 0. Meus pais não ficaram nada satisfeitos, me deram um baita sermão e lembro que o meu padrasto me disse algo assim: "Desse jeito você vai virar lixeiro!"
        Qual é o problema com os lixeiros? Eles são seres humanos menos dignos que os médicos? Se eu virar lixeiro não vou mais merecer ser amado por ninguém? Se não houvessem lixeiros as ruas iriam ficar entupidas de lixo, a vida iria ficar muito mais difícil e tem gente que xinga os lixeiros e grita "Ô cheiroso!". O cara tá lá, trabalhando dignamente, retirando a merda do lixo que você produz e que iria ficar acumulado nas calçadas, fedendo e contaminando as ruas e você ofende esse cara e trata com o maior desprezo, simplesmente porque ele é mal remunerado? Então é assim? O que importa é só isso? O salário que você ganha? Se os lixeiros ganhassem 5000 reais por mês, tenho certeza que teria um monte de gente fazendo cursinho pra prestar concurso público pra lixeiro, não porque se importam com a limpeza pública, eles seriam péssimos lixeiros, deixariam  o lixo cair do caminhão e se alguém reclamasse, eles dariam uma resposta do tipo: "Sabe com quem você está falando?!" E  os lixeiros teriam entrada vip nas festas e as mulheres iriam sonhar em se casar com um lixeiro.
       À partir desse momento resolvi que não iria me submeter, disse pra mim mesmo: Então agora eu sou um lixeiro!
        Entendi que a escola servia apenas para adestrar as pessoas, resolvi que eu não iria copiar nada, que eu não era uma máquina de xerox, que eu iria pensar por mim mesmo e arcar com as conseqüências. Tornei-me um "garoto problema", me diagnosticaram como hiper-ativo e dislexo. Tinha certeza que seria excluído da sociedade e pior, que seria tratado como um subversivo, sabia que a escola faria de tudo para me punir, seja com notas vermelhas, advertências, perseguições por parte dos professores, violência dos outros colegas por eu não ser como eles e foi exatamente isso que aconteceu, fui "convidado a me retirar” de várias escolas, Anglo, Objetivo, Mondragon, Messias, Nacional, repeti de ano 5 vezes, até que no terceiro colegial resolvi fazer um supletivo para acabar logo com aquilo.
        Ter passado por isso abalou minha auto-estima, porque quando a violência não vinha por parte da escola, vinha por parte do meu padrasto, que além de não gostar de mim por ciúmes da minha mãe, não aceitava que eu fosse "mau aluno", porque para ele, a única coisa que tinha valor na vida era arranjar um emprego com salário alto, e na cabeça dele só se arranjava um emprego com salário alto tirando notas boas, já que ele era devotado aos concursos públicos.
        Quase me convenceram de que eu era burro, doente, incapaz, de que eu nunca seria "alguém da vida", mas no fundo eu sempre soube que não era verdade, desde que eu descobri o Pink Floyd, na oitava série . Quando ouvi o The Wall pela primeira vez, me identifiquei profundamente com o Roger Waters, agora eu não era mais só um lixeiro, eu era também o Rogers Waters e ele também era um llixeiro, foi  assim que me tornei um Punk.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Faça amor, não faça guerra

        Foram poucas vezes na vida que eu fiz sexo de verdade, na grande maioria das vezes não foi muito melhor do que uma punheta inspirada ou um sonho erótico, até porque a punheta e o sonho erótico foram inspirados por alguma mulher real, uma mulher que eu não comi, mas que me despertou desejo.
        Acho triste esse papo de que homem tem que ser "bom de cama", assim como vários outros conceitos da nossa sociedade do consumo, da competição e do dinheiro. Não existe homem bom de cama, existe mulher inspiradora, o problema é que no meu caso,  na maioria das vezes em que uma mulher me encantou de verdade, eu não consegui nem sequer me aproximar dela, fiquei morrendo de medo e aquela mulher se transformou num monstro daqueles que se escondem debaixo da cama quando a gente é criança.
        A pressão pela competição é tão grande, que o medo de falhar pode paralisar. Isso aconteceu comigo durante muito tempo, criei uma expectativa tão grande com relação as mulheres que nunca conseguia transar com aquelas que realmente queria e acabava ficando obcecado por elas, imaginando como seria, sem nunca conseguir me aproximar.  Isso me remete a quando fui tirar carteira de motorista. Nunca ninguém me ensinou a dirigir e tive que aprender na auto-escola, então criei uma enorme expectativa com relação ao exame e com relação a minha própria capacidade de dirigir. Aprendi a dirigir bem, mas quando chegava na hora do exame, vinha aquele frio na barriga, pernas bambas, ficava tão nervoso que errava coisas bobas e reprovava. Acabei ficando obcecado pela idéia de passar no exame e tirar logo a tal carteira, e quanto mais obcecado eu ficava, mais nervoso eu também ficava na hora do exame. É curioso como associam essa sensação de nervosismo e pânico ao amor, dizem por aí que se você se sentir assim perto de uma mulher, é porque está apaixonado. Mentira! É medo!
        Colocam um monte de merda na nossa cabeça pra gente não conseguir trepar gostoso, ficar com tesão reprimido e apelar pra filme pornô ou mulheres da vida, porque vai dar lucro pra carvalho, tem uma industria bilionária que até seqüestra gente pra transformar em escravo sexual, mas isso não é sexo de verdade, são migalhas vendidas por um preço alto, como água no deserto.
        Vamos nos libertar dessa escravidão! Todo mundo é digno de gozar! Trepe gostoso com aquela gata que te faz pirar! Sexo é lindo, vamos transar com a vida, como diz o Jack, se todo mundo transasse gostoso de verdade o mundo seria um lugar muito melhor pra se viver. Saravá!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

No meio do caminho tinha uma pedra

        Me recordo com carinho de uma época muito boa da minha vida em que eu tinha um coração mais puro. Acho que a Sarinha foi meu primeiro amor, ela era minha prima de segundo grau, eu ficava tão feliz quando a minha mãe me falava que a gente estava indo visitar ela, meu coração se enchia de alegria quando eu a via e depois que ia embora, sentia saudade, mas uma saudade boa, porque eu sabia que na próxima vez que eu a encontrasse, iria ficar mais feliz ainda, que a gente ia matar a saudade, eu iria encher ela de abraços e beijinhos e iríamos brincar o dia inteiro, inventar apelidos carinhosos um para o outro e aí eu iria embora para poder sentir aquela saudade boa de novo, era tão bonito, eu tinha uns seis ou sete anos de idade.
         No meio do caminho eu me perdi, fugi do mundo, fugi da vida, fugi do amor. Aquele menino tão lindo, alegre, gente boa, se calou e se tornou um adolescente triste e desajeitado. Aquele menino que amava o mundo agora desconfiava de tudo, o Rafinha, que tinha um monte de amigos, que fazia piada de tudo, que era o menino mais querido da escola, agora era aquele adolescente calado lá no fundo da sala, que não tinha amigos e não conversava com ninguém e que todo mundo caçoava e colocava apelidos pejorativos.
        Então um dia uma voz voltou a falar comigo, uma voz que eu nem lembrava que existia, era o Rafinha, aos poucos ele foi tomando conta e aquele cara triste e ressentido foi ficando distante até quase não mais existir, de vez em quando ele ainda aparece com uns resmungos, querendo fazer picuínha, mas deixo ele falando sozinho e vou brincar no meu balanço, ouvindo os meus amigos passarinhos cantarem.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Poesia

 Pare de pensar em linha reta.





                        a poesia
                  vai para outra direção
                       no sentido
                         espaço-
                          tempo
                            .
                                  

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Coisa Boa

        Meus pais se separaram quando eu era bem pequeno, nem me lembro mais, eles se amavam muito, mas o casamento não deu certo porque meu pai era muito ciumento. Um dia minha mãe se cansou e foi embora. Apesar disso eu amava meu pai, ele me tratava bem, nunca bateu em mim, escrevia poesias e tocava violão, eu só via ele nas férias, mas minha madrasta não gostava que eu e meu irmão o víssemos, tinha ciúmes da gente porque éramos filhos de outra mulher. Eu ficava muito tenso quando ia pra lá sabendo que não era bem vindo, mas um dia eu me cansei daquilo e nunca mais vi meu pai, só anos depois.
        Foi minha mãe quem me criou, mas não arranjou um homem muito bom para ajudá-la nessa tarefa, ele não apreciava o fato de eu e meu irmão sermos filhos de outro homem, tinha ciúmes e demonstrava isso de forma violenta. Eu não gostava de ficar em casa, preferia dormir na casa de algum amigo e quando percebia que ele tinha pai e era bem vindo em casa, ficava querendo ir morar lá, pensando em ser irmão dele, às vezes pensava em fugir de casa, pensava até em matar aquele homem, na minha cabeça de criança.
        Foi duro pra mim ser filho de pais separados não pelo fato deles estarem separados um do outro, mas de eu ter sido separado deles no momento em que eu mais precisava, porque eu era só uma criança. Minha mãe só foi feliz no amor pela primeira vez depois que conseguiu sair daquele relacionamento. E eu, que tanto sofri por causa dos ciúmes dos relacionamentos anteriores dos meus pais, me vi, quando apaixonado, ciumento e possessivo, me tornei aquilo que tinha jurado nunca ser. Fiquei magoado, sofri muito, senti uma dor imensa, sabia muito pouco ou quase nada sobre o amor, hoje agradeço, pois aprendi que amor de verdade é outra coisa e é coisa boa.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Blog mutante

        Meu blog é um blog mutante, imagine que você comprou uma revista e leu um artigo e depois de uma semana ou somente alguns dias por acaso você folheou essa revista novamente e quando passou os olhos por aquele artigo que você tinha lido, notou que ele foi rescrito, reeditado e que o autor mudou de opinião e até de estilo de escrita. 
        Meu blog é assim, o que escrevo está sempre em aberto assim como tudo na vida, nada é definitivo, acho que deve ser por isso que até hoje eu não tive coragem de fazer uma tatuagem.

domingo, 12 de setembro de 2010

All I Need

        Aquela palavra que você falava que era quase em português ou quase em inglês ou sei lá, que você achava que tinha inventado, mas que tinha só roubado de alguém, de algum filme ou da letra de alguma música, que você gosta sempre de falar porque te lembra alguma coisa boa ou alguém que você gostava muito ou ainda gosta, ou já nem gosta tanto assim quanto já gostou antes, mas que você gostou porque vocês conversavam justamente sobre isso ou aquilo, ou já nem se falam mais. It´s all.

sábado, 4 de setembro de 2010

Zen

        Cheguei a conclusão de que eu estava me sentindo culpado por ter um tabalho tão bom, sabe, a sociedade ocidental diz que você deve se sentir culpado se por acaso ameaçar se sentir feliz e satisfeito.
        Comecei a fazer uma coisa que eu já deveria estar fazendo a muito tempo e não fazia por me sentir culpado. Simplesmente ouvir música, curtir um som, mas não nas horas vagas, fazer isso bem na hora do meu trabalho, tranqüilo numa boa, porque o meu trabalho é esse, preciso treinar minha percepção musical para compreender melhor os conceitos musicais, por isso devo reservar algumas horas por dia para curtir um som.
        Gosto de ouvir discos, pegar um disco de uma banda e degustá-lo por inteiro, gosto de bons álbuns e meu trabalho é ajudar as pessoas que querem fazer música autoral a fazer bons álbuns, ou pelo menos tentar, por isso então finalmente despi-me da culpa judaico-cristã-protestante, vesti meu coração com o manto de um monge zen e simplesmente ouvi música, com toda calma e atenção num belo ato de contemplação.  Não há coisa mais prazeirosa nesse mundo do que se entregar ao momento, redescobrir os outros sentidos sem ser a visão e passar a perceber essa linda experiência de viver com outras cores, sabores e toques.
        Quando eu era criança, pegava os vinís da minha mãe, ligava aquele som gradiente antigo bem baixinho à noite, apagava as luzes, deitava entre as caixas de som e ficava ali, deitado naquele tapete da casa que eu não moro mais, mas que ainda está nos meus sonhos, pirando naqueles sons como se não houvesse mais nada no mundo, sem pensar em nada, sem nem se quer imaginar que o meu trabalho seria fazer aquilo quando crescesse.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Mil e uma noites

        A gente sempre tem aquela fantasia de conhecer alguém com quem poderíamos conversar sobre tudo, que entenderia aquelas coisas só nossas que ninguém entende, com quem a gente poderia conversar quase que num código secreto. Um dia conheci uma menina assim no orkut, não me lembro muito bem mais, mas lembro muito mais do que gostaria, e se houvesse uma máquina como a daquele filme eu faria como o Joel, lembro que estava na faculdade, lembro que me viciei em conversar com ela no msn, como um vício numa droga forte, tipo heroína, ela virou minha heroína, minha Xerazade, mas dizia que não gostava de msn, apesar de ter conversado nele comigo por mil e uma noites online, não queria me ver pessoalmente, acho que tinha medo que eu mandasse matá-la.
        Eu achava que ela era única, que nossos diálogos eram únicos, existe uma química que antecede o sexo e que até o transcende que rola nos diálogos.
        Depois dessa Xerazade fiquei deprê, procurei qualquer aventura pra tentar esquecer, pra ver se parava de doer, mesmo que só por uma noite. O lance do sexo tem dessas ironias né, aí quando você procura uma mulher só para o sexo, uma que ainda não seja uma devassa, ela se entrega e quer se envolver, e aquele "eu nunca me envolvo" que ouvi da boca de uma mulher um dia se transformou em "eu quero algo mais sério" na boca das outras, mas agora sou eu que digo que não quero me envolver, tenho medo dos diálogos.

domingo, 25 de julho de 2010

Manhã Bossa Nova

        Acordei ao meio dia numa manhã bossa nova, fazia frio e ventava, o vento murmurava pela janela numa melodia como um samba de uma nota só. Sentei na cama e fiquei pensando que não sei mais se eu sou eu mesmo, tenho saudades de mim, daquele meu eu que ficou pra trás, tenho saudades de tudo já se foi. 
       Perdi-me de mim e por isso agora saio por aí a procurar, em cada esquina, na boemia, tentando me encontrar. Acho que foi você que me tirou de mim. Quase já nem penso mais em você, mas eu te guardei, junto com algumas canções, alguns momentos, livros, filmes, poesias, naquela parte do meu ser onde mora toda a beleza que me encanta e se um dia o acaso nos aproximar, quero apenas um abraço que seja eterno enquanto dure.

domingo, 30 de maio de 2010

Te Fazer mulher

        Sentia os seus olhos me olharem, mas quando eu te olhava de volta, nem sentia mais nada, só vontade de te fazer mulher. Então se me quiser, que seja só por diversão; assim quem sabe a gente não esquece essa loucura de ser só.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O Orgulho

        Minha libido tá em baixa agora, sei lá, nem tou com vontade de transar não, deve ser por isso que estou escrevendo, se assim não fosse, de certo estaria alí batendo uma, ou espiando as meninas passarem na rua e pensando em sacanagem, diz que homem é bicho safado, tipo um cachorro, que se deixar trepa até com as quinas dos sofás; mas agora nem estou assim nesse estado animalesco não, não sou um bicho o tempo todo, às vezes consigo até ser gente, mesmo que só por alguns instantes. E nesse instante, ainda assim estou pensando nas mulheres.
        É bom pensar nas mulheres com distanciamento do tesão. Resolvi pensar nas mulheres que me amaram. Nunca tinha feito isso antes. De tão orgulhoso, desprezava aquelas que me amaram, assim como aquelas que amei sempre me desprezaram.
        Como pude eu me ressentir do desprezo das que amei sendo que sempre desprezei o amor daquelas que me amaram? Como pude me ressentir, sendo que a única coisa que me fez sofrer foi a minha ignorância sobre o amor? Que bobeira né! Não vale a pena não. Mágoa é desperdício de tempo e energia, principalmente se for mágoa do orgulho de outrém.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Clichê Blasé

        Hoje decidi ficar manso o dia todo, deixar a barba por fazer, o cabelo por pentear, não mover mais nenhuma palha porque alguém vai olhar. 
        Cansei de papo furado, discurso vago, cansei dessa masturbação mental interminável, desse mundo clichê blasé. Novidade pra mim é o ventinho de outono balançando as cortinas, me dizendo que não é mais verão, comer jabuticaba no pé, ver a menina bonita passar. 
        Não quero mais ser bom pra ninguém, não quero ser interessante, não quero ser alguém na vida, só quero abraçá-la, sentí-la, cheirá-la, escutá-la, degustá-la e depois devorá-la enquanto estou vivo. Gozar a vida, gozar com a vida, viver o gozo até a morte.