terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Carta de amor(sacanagem) que eu nunca mandei

Esses dias assisti um filme ambientado na época da segunda guerra, chamado "Desejo e Reparação". Um homem escrevia uma carta de amor para uma mulher numa máquina de escrever, ele escreve várias versões, até que uma hora ele se cansa e resolve escrever uma carta de sacanagem só pra relaxar. É claro que ele nunca teria coragem de mandar aquela carta, mas no outro dia ele acorda atrasado e num ato falho acaba colocando a carta de sacanagem no envelope sem querer e para surpresa dele, a mulher, apesar de fingir que não, curte o que ele escreveu e eles acabam transando na biblioteca da casa dela,  fiquei inspirado pelo filme e resolvi escrever a minha própria carta de sacanagem.

        Quero te pedir que não fique grilada por eu te desejar, afinal de contas, esse negócio de você me tratar mal sem motivo só me faz pensar que como disse o Júpiter Maçã,  todas as estrelas serão nossas e o universo compreendido quando a gente gozar, sei que você dá para outros caras, tudo bem; antes eu achava que se você desse pra outros eu não iria te querer mais, mas hoje percebo que isso não tem nada a ver, porque eu estou ligado na sua essência interior, estou guardando meu lugar na fila e se a fila andar saiba que  eu ainda  te quero,  que esse lance de você ter ficado de mal comigo, ter me ignorado e tudo mais, me deixou com mais tesão ainda, me dá até um nervoso quando eu te vejo, de tão louco que eu fico de vontade de chegar em você, te fazer uns carinhos e te dar uns amassos.
        Não espero nenhum tipo de compromisso com o futuro, o futuro só existe no campo do vir a ser, das infinitas possibilidades, e o passado só existe nas recordações. O que me interessa é só o agora, que o nosso agora seja inesquecível.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eu sou um lixeiro

         Eu adorava ir à escola quando estava no jardim de infância, porque a tia pedia pra gente fazer um desenho bem bonito, mas não era obrigado a fazer se não quisesse e se a tia gostasse do desenho ela escrevia um elogio e colava uma estrelinha pra gente mostrar pra mamãe, quando eu entrei pra primeira série tudo mudou, não tinha mais estrelinha, a tia não pedia mais pra gente fazer desenhos, agora a gente tinha que decorar nomes e números e tinha que copiar coisas do quadro negro.
        Até hoje lembro da primeira prova de "interpretação de texto" que fiz. A prova tinha um texto que era um trecho de algum livro e em baixo tinha perguntas sobre o texto, mas não eram perguntas que levavam à pensar sobre o que falava o texto, eram perguntas irrelevantes para que a gente tivesse que copiar um trecho do texto, então pensei: Mas que idiota! Pra que que eu tenho que copiar um trecho desse texto sendo que já tá escrito lá?! Eles querem me transformar num papagaio?! Não quero fazer isso não, isso é chato, é paia, eu sou gente! Então é só pra isso que serve a escola? Decorar, decorar e copiar e copiar? Quero falar o que eu penso! Quero dar minha opinião sobre o que eu achei desse texto! Então ignorei as perguntas idiotas e escrevi o que eu pensava.
        Recebi minha prova toda riscada de caneta vermelha e uma nota próxima de 0. Meus pais não ficaram nada satisfeitos, me deram um baita sermão e lembro que o meu padrasto me disse algo assim: "Desse jeito você vai virar lixeiro!"
        Qual é o problema com os lixeiros? Eles são seres humanos menos dignos que os médicos? Se eu virar lixeiro não vou mais merecer ser amado por ninguém? Se não houvessem lixeiros as ruas iriam ficar entupidas de lixo, a vida iria ficar muito mais difícil e tem gente que xinga os lixeiros e grita "Ô cheiroso!". O cara tá lá, trabalhando dignamente, retirando a merda do lixo que você produz e que iria ficar acumulado nas calçadas, fedendo e contaminando as ruas e você ofende esse cara e trata com o maior desprezo, simplesmente porque ele é mal remunerado? Então é assim? O que importa é só isso? O salário que você ganha? Se os lixeiros ganhassem 5000 reais por mês, tenho certeza que teria um monte de gente fazendo cursinho pra prestar concurso público pra lixeiro, não porque se importam com a limpeza pública, eles seriam péssimos lixeiros, deixariam  o lixo cair do caminhão e se alguém reclamasse, eles dariam uma resposta do tipo: "Sabe com quem você está falando?!" E  os lixeiros teriam entrada vip nas festas e as mulheres iriam sonhar em se casar com um lixeiro.
       À partir desse momento resolvi que não iria me submeter, disse pra mim mesmo: Então agora eu sou um lixeiro!
        Entendi que a escola servia apenas para adestrar as pessoas, resolvi que eu não iria copiar nada, que eu não era uma máquina de xerox, que eu iria pensar por mim mesmo e arcar com as conseqüências. Tornei-me um "garoto problema", me diagnosticaram como hiper-ativo e dislexo. Tinha certeza que seria excluído da sociedade e pior, que seria tratado como um subversivo, sabia que a escola faria de tudo para me punir, seja com notas vermelhas, advertências, perseguições por parte dos professores, violência dos outros colegas por eu não ser como eles e foi exatamente isso que aconteceu, fui "convidado a me retirar” de várias escolas, Anglo, Objetivo, Mondragon, Messias, Nacional, repeti de ano 5 vezes, até que no terceiro colegial resolvi fazer um supletivo para acabar logo com aquilo.
        Ter passado por isso abalou minha auto-estima, porque quando a violência não vinha por parte da escola, vinha por parte do meu padrasto, que além de não gostar de mim por ciúmes da minha mãe, não aceitava que eu fosse "mau aluno", porque para ele, a única coisa que tinha valor na vida era arranjar um emprego com salário alto, e na cabeça dele só se arranjava um emprego com salário alto tirando notas boas, já que ele era devotado aos concursos públicos.
        Quase me convenceram de que eu era burro, doente, incapaz, de que eu nunca seria "alguém da vida", mas no fundo eu sempre soube que não era verdade, desde que eu descobri o Pink Floyd, na oitava série . Quando ouvi o The Wall pela primeira vez, me identifiquei profundamente com o Roger Waters, agora eu não era mais só um lixeiro, eu era também o Rogers Waters e ele também era um llixeiro, foi  assim que me tornei um Punk.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Faça amor, não faça guerra

        Foram poucas vezes na vida que eu fiz sexo de verdade, na grande maioria das vezes não foi muito melhor do que uma punheta inspirada ou um sonho erótico, até porque a punheta e o sonho erótico foram inspirados por alguma mulher real, uma mulher que eu não comi, mas que me despertou desejo.
        Acho triste esse papo de que homem tem que ser "bom de cama", assim como vários outros conceitos da nossa sociedade do consumo, da competição e do dinheiro. Não existe homem bom de cama, existe mulher inspiradora, o problema é que no meu caso,  na maioria das vezes em que uma mulher me encantou de verdade, eu não consegui nem sequer me aproximar dela, fiquei morrendo de medo e aquela mulher se transformou num monstro daqueles que se escondem debaixo da cama quando a gente é criança.
        A pressão pela competição é tão grande, que o medo de falhar pode paralisar. Isso aconteceu comigo durante muito tempo, criei uma expectativa tão grande com relação as mulheres que nunca conseguia transar com aquelas que realmente queria e acabava ficando obcecado por elas, imaginando como seria, sem nunca conseguir me aproximar.  Isso me remete a quando fui tirar carteira de motorista. Nunca ninguém me ensinou a dirigir e tive que aprender na auto-escola, então criei uma enorme expectativa com relação ao exame e com relação a minha própria capacidade de dirigir. Aprendi a dirigir bem, mas quando chegava na hora do exame, vinha aquele frio na barriga, pernas bambas, ficava tão nervoso que errava coisas bobas e reprovava. Acabei ficando obcecado pela idéia de passar no exame e tirar logo a tal carteira, e quanto mais obcecado eu ficava, mais nervoso eu também ficava na hora do exame. É curioso como associam essa sensação de nervosismo e pânico ao amor, dizem por aí que se você se sentir assim perto de uma mulher, é porque está apaixonado. Mentira! É medo!
        Colocam um monte de merda na nossa cabeça pra gente não conseguir trepar gostoso, ficar com tesão reprimido e apelar pra filme pornô ou mulheres da vida, porque vai dar lucro pra carvalho, tem uma industria bilionária que até seqüestra gente pra transformar em escravo sexual, mas isso não é sexo de verdade, são migalhas vendidas por um preço alto, como água no deserto.
        Vamos nos libertar dessa escravidão! Todo mundo é digno de gozar! Trepe gostoso com aquela gata que te faz pirar! Sexo é lindo, vamos transar com a vida, como diz o Jack, se todo mundo transasse gostoso de verdade o mundo seria um lugar muito melhor pra se viver. Saravá!