terça-feira, 2 de novembro de 2010

No meio do caminho tinha uma pedra

        Me recordo com carinho de uma época muito boa da minha vida em que eu tinha um coração mais puro. Acho que a Sarinha foi meu primeiro amor, ela era minha prima de segundo grau, eu ficava tão feliz quando a minha mãe me falava que a gente estava indo visitar ela, meu coração se enchia de alegria quando eu a via e depois que ia embora, sentia saudade, mas uma saudade boa, porque eu sabia que na próxima vez que eu a encontrasse, iria ficar mais feliz ainda, que a gente ia matar a saudade, eu iria encher ela de abraços e beijinhos e iríamos brincar o dia inteiro, inventar apelidos carinhosos um para o outro e aí eu iria embora para poder sentir aquela saudade boa de novo, era tão bonito, eu tinha uns seis ou sete anos de idade.
         No meio do caminho eu me perdi, fugi do mundo, fugi da vida, fugi do amor. Aquele menino tão lindo, alegre, gente boa, se calou e se tornou um adolescente triste e desajeitado. Aquele menino que amava o mundo agora desconfiava de tudo, o Rafinha, que tinha um monte de amigos, que fazia piada de tudo, que era o menino mais querido da escola, agora era aquele adolescente calado lá no fundo da sala, que não tinha amigos e não conversava com ninguém e que todo mundo caçoava e colocava apelidos pejorativos.
        Então um dia uma voz voltou a falar comigo, uma voz que eu nem lembrava que existia, era o Rafinha, aos poucos ele foi tomando conta e aquele cara triste e ressentido foi ficando distante até quase não mais existir, de vez em quando ele ainda aparece com uns resmungos, querendo fazer picuínha, mas deixo ele falando sozinho e vou brincar no meu balanço, ouvindo os meus amigos passarinhos cantarem.

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